Uma Formiga para Presidente.

Não é que deu a louca na floresta! O rei leão, soberano sobre todos animais, resolveu colocar o seu poder a prova e abrir para todos uma eleição no reino. O felino queria testar seu poder sobre os bichos, e claro, identificar possíveis inimigos.

Quem espalhara a ideia foram os abutres e urubus, verdadeiros puxa sacos que se contentam com as sobras da monarquia.

O leopardo envaideceu-se com a possibilidade e queria mostrar pra todos que estava pronto para assumir o cargo de seu parente, que tinha a mesma postura machista, os mesmos ideais paternalistas e sabia governar com mão de ferro, aliás com garras de ferro, melhor do que ninguém.

Ao se dirigir para fórum da floresta, lembrou-se que o rei tinha os ursos como seus marqueteiros e sabia que animais com a capacidade de ficar em pé como os humanos possuem níveis de intelecto acima do dele. Pobre Leo, pensa que os seres humanos ainda sabem pensar.

O macaco, como um bom estrategista político, tratou logo de criar um partido para escolher um animal a altura do leão, mas infelizmente os elefantes eram apenas filósofos e sua inteligência não passava do abstrato e as corujas embora muito sábias, tinham hábitos noturnos e preocupavam-se apenas com suas noitadas e em acumular currículo, tudo isso pra justificar sua inteligência, mas jamais pensara em colocá-la em prática.

Não é que uma pequena formiga operária, cansada de ser humilhada com trabalhos abusivos, resolveu concorrer contra o temível leão.

Jogou o seu capacete de lado e disse: – É de uma pequena semente de onde surgem as grandes árvores. De repente, todo o formigueiro parou e caiu numa gargalhada só. Como poderia uma pequena formiguinha vencer a um rei, um imperador, um ditador? Infelizmente os animais faziam apenas o que o rei os mandara fazer à vida toda: Nascer, crescer, sobreviver, reproduzir e morrer.

Mas a jovem formiguinha estava determinada, mandou chamar os animais revolucionários e os que eram contra ao rei para criarem um partido, uma agremiação que defendesse os interesses de todos.

Vieram então a cobra, a raposa, e outros animais peçonhentos, a formiga percebeu que ali não haviam bichos confiáveis e que se recebesse o apoio deles seria apenas uma marionete para a eleição e logo depois de eleita, se eleita, eles tomariam o poder, ou teria que fazer o que eles quisessem. Assim como acontece com o Brasil para prefeito e presidente da república.

A revolucionária formiguinha resolveu então partir sozinha, na tentativa de convencer a todos, através de propostas que trariam o desenvolvimento para a floresta, mas sem agredir a natureza. O problema é que a formiga era muito pequena e quando falava ninguém escutava.

Ela partiu do princípio que todos os animais precisavam ser ouvidos, buscou então falar com os animais maiores. Foi ao encontro dos gnus, mas esses tinham que defender sua manada e já tinham vendido seus votos em troca de segurança. Foi falar então com as zebras, mas estas também estavam preocupados em saber se eram pretas com listas brancas ou brancas com listas pretas, mais um daqueles assuntos dos youtubers na internet.

A formiguinha sugeriu a formação de um sindicato de animais que unidos, fizessem com que os humanos respeitassem as leis da natureza e da cadeia alimentar para manter a ordem do planeta. Pediu que o papagaio fosse o representante, já que falava a língua das duas espécies, e assim, seria o intermediador para defender seus interesses no congresso. Pobre pequenina, o papagaio falava demais e mesmo com seu verde e o louro como qualquer político brasileiro se corrompia facilmente.

Desapontada com a política, nossa heroína pensa em desistir, faltando exatamente 3 luas para as eleições. De repente, ao se deparar com o um vidro no chão, desses que os turistas deixam por ai, a pequena estadista percebeu que fazia exatamente o que os demais animais faziam, entendeu que ela tinha preconceito com seu próprio tamanho e origem e nunca havia tentado convencer aqueles que mais trabalhavam na floresta, AS FORMIGAS.

Tratou de correr para os formigueiros e disseminar aos quatro ventos suas propostas: menos horas de trabalho, dias de folga nos finais de semana, décimo terceiro salário, liberdade de expressão e quando a rainha se deu conta, os formigueiros de toda a floresta estavam de greve.

E ali, por baixo dos panos, ou melhor, da terra os insetos uniram-se e se organizaram de tal forma que para cada um animal no solo, existiam centenas de formigas, sem falar nos insetos menores como o mosquito da dengue que tinham aos milhares e resolveram apoiar a formiguinha.

Agora sim, a jovem política podia expressar suas vontades para todos aqueles que antes eram oprimidos, mas que representavam a base sustentável da floresta.

Quando começou a contagem dos votos o rei Leão mandou logo fazer uma grande festa para comemorar, já a nossa heroína, juntara os insetos para acompanhar os resultados em um formigueiro feito por suas companheiras de campanha.

E não deu outra, a formiguinha ganhou com sobra do Leão, a primeira eleição da história dos bichos se repetia como a de Davi e Golias.

E por quatro anos a floresta foi feliz, apesar de pequenos, os insetos trouxeram a ordem a toda a comunidade animália.

É pena que o leão fez um acordo com as formigas rainhas de todos os formigueiros que na eleição seguinte votaram no Rei dos animais que por sua vez nunca mais resolveu discutir seu trono.

A formiguinha presidente voltou a velha função de operária e até foi esquecida como todos os grandes heróis de verdade. O mais importante nessa história, é perceber que uma pequena formiga é capaz de mudar o seu mundo por um certo tempo, mesmo contra a vontade dos gigantescos animais, sem esquecer o que ela tem de melhor, que é ser ela mesma.

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